Minha experiência com o Fedora Silverblue no Atom com 2GB de RAM

Silverblue é o novo nome do sistema operacional conhecido anteriormente como Atomic Workstation, e seus principais benefícios são velocidade, segurança e base imutável. Se quiserem saber mais sobre o que é o Fedora Silverblue, leiam aqui.

Meu “super” hardware

  • PC Desktop NeoPC de 2011
  • Processador: Intel Atom D525 Dual Core com Hyper Threading
  • 2GB de RAM DDR3
  • 160GB de HD + 160GB de HD secundário
  • GPU Integrada ao processador

Instalação do sistema

A instalação do sistema é feita da mesma forma que a versão Workstation do Fedora, usando o instalador Anaconda. A instalação demorou o mesmo tempo que a instalação do Fedora Workstation ou qualquer spin do Fedora (sim, já usei todas elas). Ou seja, o processo foi demorado: processador fraco + HD lento, estou acostumado com minhas outras máquinas com SSD.

Problemas na instalação

Após a instalação e após fazer o setup inicial do GNOME, tive um problema com o GDM, que já havia sido reportado aqui. Apesar de ter acesso ao TTY para poder configurar a conexão com a internet pelo terminal, eu resolvi instalar a versão 30, que ainda possui suporte, para prosseguir com meus testes. Isso não faria diferença porque o objetivo final era instalar o XFCE, que está na mesma versão no 30 e no 31.

Pós-instalação

Após a instalação, fiz o rebase para a versão 31, mas obtive o mesmo erro relatado acima, então fiz o rollback para a versão 30 novamente (essa é uma das vantagens de usar o Silverblue).

Fedora Silverblue 30 instalado e funcionando

Usando o “Contas Online” para acessar meu Google Drive

Consumo do disco após a instalação

Como eu esperava, o sistema não ficou nada fluído com GNOME no meu Atom, então usei o projeto Kinoite para instalar o ambiente desktop XFCE.
Usei o excelente tutorial do Renato Araújo, do blog FastOS: https://fastoslinux.com/2019/07/30/silverblue-com-kde-plasma

Se vocês forem usar o Silverblue, visitem o blog FastOS, tem muita coisa sobre o sistema.

Instalação do Ambiente XFCE

Fiz o rebase para o XFCE, e o download foi de 743MB

O sistema ficou muito mais leve com o Ambiente XFCE, mais leve, inclusive,do que a spin XFCE do Fedora padrão .

Consumo inicial de RAM e processador do Silverblue com XFCE

Apliquei o tema Greybird e troquei o wallpaper

Após a instalação do XFCE o sistema passou a ocupar 11GB do HD, somando as duas imagens: GNOME e XFCE, pois fiquei com os dois instalados e posso escolher na hora do boot (GRUB).

Instalação de pacotes

Precisei instalar pacotes para usar o sistema (ora, mas que surpresa!). Optei por usar dois métodos: rpm-ostree e Flatpak

Para alguns pacotes, principalmente de sistema e a GNOME Software, eu usei o rpm-ostree, equivalente ao DNF no fedora padrão. E para outros pacotes, os de programas desktop, preferi os flatpaks.

RPM Fusion Free:

rpm-ostree install https://download1.rpmfusion.org/free/fedora/rpmfusion-free-release-$(rpm -E %fedora).noarch.rpm

Após o reboot (temos que fazer um reboot após instalar pacotes com o rpm-ostree, pois o sistema monta outro deploy do sistema todo a cada instalação)

rpm-ostree install gnome-software xarchiver ffmpeg vim git neofetch gcc-c++ mesa-libGL-devel simplescreenrecorder

Obs.: instalei o gcc-c++ e o mesa-libGL-devel para rodar um programa em Qt que estou fazendo num curso (usando o QtCreator). Insralei o simplescreenrecorder para gravar os vídeos sobre o uso do sistema.

Vantagens do rpm-ostree

  • O rpm-ostree não modifica ou substitui pacotes do sistema base, o que possibilita voltarmos para o sistema base em caso de necessidade
  • Se houver algum erro ou falta de conexão à internet durante a instalação, nenhuma alteração é feita e não teremos pacotes quebrados pela interrupção do instalador, basta refazermos a instalação com as devidas correções
  • O sistema armazena as camadas de pacotes instalados (layered packages), se o resultado da instalação não for satisfatório, podemos usar o rollback (que não abordo aqui) e usar o sistema no estado em que ele estava antes

E existem mais vantagens, mas ainda sou um iniciante no sistema, farei mais posts/vídeos ao longo do uso.

Desvantagem do rpm-ostree

A instalação de qualquer pacote com o rpm-ostree requer o reboot da máquina, para podermos iniciar o novo deploy do sistema com os layered packages instalados. Dica: faça uma lista de tudo que forem precisar para instalar tudo de uma vez usando o rpm-ostree.

Fiz um vídeo mostrando a instalação de pacotes com rpm-ostree:

Lidando com flatpaks

Para instalar alguns flatpaks, adicionei o repositório flathub:

flatpak remote-add --if-not-exists flathub https://dl.flathub.org/repo/flathub.flatpakrepo

Assim, pude usar a GNOME Software para instalar programas do repositório Flathub


Pacotes instalados via flatpak:

  • Dbeaver: Cliente de bancos de dados
  • Geany: Editor de textos e IDE
  • Audacity: Editor de áudio
  • KDEnlive: Editor de vídeo
  • LibreOffice: A melhor suíte de escritório
  • Inkscape: Editor de desenhos vetoriais
  • GIMP: Editor de imagens

LibreOffice Calc

Fiz um vídeo sobre a instalação de Flatpaks no Fedora Silverblue:

Sobre o desempenho e uso de disco dos flatpaks

Pacotes flatpak requerem runtimes e SDKs para rodarem. Se todos os empacotadores usassem o mesmo runtime para os pacotes que exigem GNOME, para os que exigem KDE, etc., seria melhor. Mas receio que nunca haverá uma padronização de runtimes e SDKs. Se quiserem ver como construir um flatpak, fiz um tutorial, veja aqui.

Depois da introdução acima, posso dizer que o consumo do disco da minha máquina ficou um pouco acima do que seria consumido usando pacotes rpm tradicionais, mas não farei comparativos e nem gráficos aqui. Se quiserem ver um artigo sobre isso, vejam o post do FastOS aqui.

Sobre o desempenho, não notei nenhuma diferença entre os programas flatpak e os rpm tradicionais na minha máquina, e eu já fiz muitos vídeos sobre o Fedora LXDE usando o mesmo computador, fora o fato de usar Fedora no mesmo PC há vários anos. Os programas rodam com o mesmo desempenho, tando com rpm quanto com flatpak.

Consumo do disco antes de instalar o programa DBeaver: 9,7GB

Consumo do disco depois de instalar o DBeaver: 12GB

Foram 2,3GB de disco para instalar o DBeaver. Claro que se outros programas precisarem dos mesmos runtimes e SDKs que o DBeaver precisa, eles serão compartilhados, e algumas partes dos runtimes também são compartilhadas, às vezes o flatpak baixa dependências parciais e não um runtime inteiro também.

Uso do disco antes e depois da instalação do editor/IDE Geany: 17GB e 18GB

No caso do Geany, o uso do disco foi de 1GB. Não fiz o comparativo de todos os outros programas.

Ajustes para maior fluidez do sistema

Para que o sistema rodasse melhor no meu PC, eu fiz algumas alterações:

Eu não criei partição de swap para o sistema, mas sim um arquivo de swap depois do sistema instalado. Se quiser saber como criar um arquivo de swap, leia o tutorial aqui ou veja o vídeo que fiz abaixo:

Outros ajustes:

  • vm.swappiness=5
  • vm.vfs_cache_pressure=50

Se quiserem ver como fazer estes e outros ajustes, vejam o post do Fábio Akita aqui ou o vídeo abaixo:

Sobre o uso do sistema

Eu fiquei surpreso ao usar o sistema no meu PC mais fraco. Esperava um sistema mais lento por usar tantos contêineres, mas o que obtive foi um sistema leve e gostoso de usar, comparável ao Void Linux com XFCE que usei por tanto tempo no mesmo computador. Para quem não acompanhou, eu fiz muitos vídeos sobre o Void com XFCE no mesmo computador aqui.

Exceto as tarefas no navegador, que são o calcanhar de Aquiles do meu PC, o sistema está rodando com uma fluidez surpreendente para o meu hardware, e está longe de usar todo o HD de 160GB que dediquei a ele.

Entendam: é um sistema moderno rodando com fluides num computador legado e que já era dos mais fracos na época em que foi lançado.

Existem algumas coisas que ainda não conheço muito, vou tratar delas nos próximos tópicos.

O repositório Flathub é confiável?

O Fedora Silverblue foi concebido para ser usado com flatpaks. Existem alguns repositórios nos quais tenho mais confiança: Fedora, GNOME e KDE Apps.

  • O repositório de flatpaks do Fedora ainda tem poucos programas.
  • O repositório kdeapps traz, nos apps que testei, programas nightly, que são versões de teste para as próximas versões estáveis.

O repositório onde os programas flatpak funcionam melhor é o flathub. Eu sei que muitos empacotadores que publicam no flathub são os desenvolvedores dos programas (upstream), mas o flathub não mostra quem são os mantenedores, todos aparecem como Flathub Maintainers. Seria muito bom se o Flathub mostrasse, de fato, quem mantém os pacotes.

Quem são os mantenedores do pacote GNOME Builder no Flathub?

Considerações finais

Se alguém me perguntar se vale a pena usar o Fedora Silverblue, baseado na minha experiência no PC mais fraco que eu tenho, eu digo que sim, com certeza.Se vocês não quiserem usar o kinoite (que vou falar sobre em outro artigo), podem instalar outros ambientes desktop manualmente. Eu optei pelo Kinoite porque ele não apenas instala o ambiente XFCE, mas já “faz a limpa” e remove as coisas do GNOME instaladas anteriormente.

Como usei muitas coisas do flathub, eu gostaria de saber quem são os mantenedores dos pacotes, e não apenas “Flathub Maintainers”.

O Flathub será o próximo “repositório oficial” caso o Silverblue realmente venha a substituir o Fedora Workstation? Ou vamos (sim, eu me incluo nisso) levar os pacotes para o repositório flatpak do Fedora? São perguntas sinceras, e eu gostaria de ver o comentário de vocês a respeito disso.

Não tive problema nenhum em usar o Silverblue e os flatpaks num PC extremamente fraco e velho, então derrubei o mito que estava na minha própria cabeça, sobre a fluidez do sistema: o argumento sobre o desempenho piorado por usar flatpaks foi derrubado, e essa foi a maior motivação para eu ter começado a empreitada de usar o Fedora Silverblue. No próximo ano vou instalar o Silverblue no PC do meu trabalho (atualmente tenho o Debian Oldstable nele — o Stretch) e usar ao longo do ano, tentando contribuir com o projeto e com a comunidade.

P.S.: Se virem algum erro, me ajudem a corrigir.

E vocês, conhecem o Silverblue? Tem algo a dizer sobre ele?

Comentários

  • Ficou muito bom seu review, um material muito bom para inciantes e pra quem quer usar o silverblue... em uma maquina maias fraca!!! até mesmo em geral!! parabéns @leandroramos ...

  • Obrigado, @Betânia - eu não coloquei o passo a passo dos procedimentos, mas sim links para meus vídeos e posts e tbm os posts do Renato. No futuro farei tutoriais sobre o Silverblue aqui.